A divulgação e disseminação de informações na mídia sobre o assunto também colaboraram e ainda colaboram para a expansão do setor. Assim como a imprensa vem trabalhando para quebrar esse tabu, personalidades famosas falam sobre o assunto cada vez mais e com naturalidade e até a dramaturgia tem feito seu pinto vibrador papel. Um exemplo é a recente cena da novela da Globo, Segundo Sol, que mostrou a atriz Andrea Beltrão interpretando Rebeca, uma mulher mais velha, se masturbando em horário nobre da TV aberta. Pablo Dobner alega que o único propósito do estudo é promover os sites pornográficos gratuitos na internet.
Mercado de produtos eróticos cresce 50% durante a pandemia
O atendimento humanizado também acaba sendo outra prioridade para as lojas online desse segmento. A tendência mais recente das lojas de bairro tem sido a de abrir o negócio erótico para atingir um público familiar e feminino. Nessas lojas de bairro, os homens ainda são os consumidores mais numerosos, mas quando pedem explicações ou sugestões nas compras, se referem às esposas ou namoradas. As mulheres, mesmo em menor contingente, compram mais e produtos caros (estimuladores, além dos cremes, lingeries e fantasias). Sem o investimento na vulgaridade, as boutiques seriam apenas lojas de lingerie. Também no caso das lojas do centro, a ausência de moralismo, que envolve o desfrute sexual e o associa a um tabu faria a loja perder seu sentido de existir.
Erotismo, mercado e gênero: uma etnografia dos sex shops de São Paulo
A explicação é que, com a redução das opções de lazer, muitos têm encontrado nos produtos sensuais uma forma de se divertir. A maior parte destes consumidores são mulheres, segundo pesquisa da plataforma de informações Mercado Erótico. O levantamento mostra que, durante os primeiros meses de quarentena, 66% dos atendimentos realizados em lojas físicas e virtuais pesquisadas foram direcionados ao público feminino.
Mulheres brasileiras são as que mais veem pornografia, diz pesquisa
Também em São Paulo, o comércio de roupas íntimas da Rua Oriente, no centro, destaca produtos eróticos. “Começamos com alguns óleos e lubrificantes que colocávamos perto do caixa”, lembra Jamile Ghosm, dona da Mile Lingerie. �Mais da metade das nossas clientes leva algum produto erótico além das lingeries�. As vendedoras são treinadas a ouvir pacientemente e acabam se transformando em conselheiras amorosas. “É preciso entender o tipo de relacionamento que a cliente tem para indicar o melhor produto”, ensina Jamile. “Sugerimos colocar um bilhetinho na carteira, comprar uma garrafa de vinho, vestir uma roupa mais ousada”, conta.
É notável que atualmente as mulheres passaram a priorizar e incluir mais a sexualidade em suas conversas, sejam elas dentro de casa, com a família, amigas e amigos, parceiros e parceiras, e também em suas rotinas de autocuidado. A palavra obscena, ao exagerar o contraste entre o rude e o elegante, a classe baixa e a classe alta, o masculino e o feminino, lida com a transgressão social nos termos de uma hiperrealidade – a realidade é apresentada em formas quase grotescas (Frappier-Mazzur, 1993). A Pantynova nasceu com a proposta de empoderar mulheres e pessoas LGBTQIA+ por meio de produtos eróticos, iniciando suas atividades em 2018 com a produção de strap-ons (cintas penianas) e dildos (peças fálicas sem vibração). Se você olhar para os sex shops do mercado, vai perceber que a grande maioria aposta na produção de conteúdo para alavancar suas vendas.
Para completar, redes sociais como Instagram e Facebook são excelentes canais de venda para produtos eróticos. Nesse sentido, além da criação de produtos mais específicos, a chegada das mulheres na liderança desses empreendimentos também tem dado “cara nova” às informações disponíveis sobre sexualidade e prazer. Outro ponto levantado pelos especialistas para explicar a ascensão do segmento é o maior número de mulheres na liderança.
A categoria estreou no marketplace do Magalu oferecendo marcas como Pantynova, Fun Factory, Nuasis, Lilit e Dona Coelha. Vender pela internet no mercado erótico é um grande negócio, pois você tem custos muito menores do que os de uma loja física e alto potencial de lucro. Então, se você nunca entrou em um sex shop ou acessou um e-commerce de itens eróticos, esse é o momento de entender como funciona esse mercado. Além disso, especialistas afirmam que o avanço do setor também acompanha a maneira com a qual as novas gerações lidam com a sexualidade – mas reforçam que ainda há vários preconceitos e tabus que envolvem o mercado e que ainda impedem um crescimento mais forte do segmento. O movimento não é de agora, mas ganhou força durante a pandemia e, para especialistas e empresários, passa a ser uma forte tendência no setor.
Queríamos propor infinitas possibilidades de uso para além das fórmulas matemáticas de prazer instantâneo dos brinquedos de plástico convencionais.” As esculturas, que precisam de uma manutenção simples à base de óleo de coco, ainda dão um charme no décor da mesa de cabeceira. “As sextechs estão em plena ascensão”, observa Marina Ratton, fundadora da Feel, especializada em produtos femininos, como gel lubrificante (aprovado pela Anvisa). A empreendedora associa essa tendência de mercado ao aumento da parcela de mulheres solteiras, no Brasil e no mundo. A Feel é uma das 13 sextechs com propostas de produtos e serviços inovadores e que foram selecionadas em um programa de aceleração do Grupo Boticário. Para Starling, da Pantynova, no entanto, ainda há um desafio a ser enfrentado pelo segmento no que diz respeito ao varejo físico.
No Brasil, ainda há um tabu muito grande em levar produtos para uma gôndola física no meio da loja. Acredito que a educação sexual ainda é um grande obstáculo nesse sentido, mas é uma questão que tende a ser derrubada”, diz. “A questão do feminismo na internet ajudou e todo mundo teve tempo para se descobrir durante a pandemia. Como estávamos todos à sós, nada melhor do que um brinquedo erótico para entender nosso próprio corpo”, pontua ela. Como exemplo de que a curiosidade e interesse por experiências novas nos últimos anos aumentou, ela cita um “boom” na venda de produtos que não costumavam sair muito, como o plug anal. Outro aspecto que chama a atenção na fala da informante – e que foi também enfatizado em outras situações de campo e entrevista – diz respeito aos limites ou mais propriamente a expansão das fronteiras materiais do corpo.
Também há uma polêmica relacionada ao tipo de conteúdo que as mulheres preferem ver. Mas Dobner reconhece que as cenas de sexo entre lésbicas são materiais com os quais elas podem se sentir mais confortáveis – porque essas cenas mostram exclusivamente mulheres tendo prazer. Preferências A pesquisa afirma ainda que as categorias mais procuradas pelas mulheres que consomem pornografia na internet são “lésbicas”, “trios” e “squirt” (ejaculação feminina). Dissolvendo eventuais estereótipos, a clientela da loja é formada majoritariamente por mulheres casadas, de classe social alta, na faixa dos 40 anos. Ao contrário do que muitos imaginam, o objetivo não é substituir o parceiro, mas temperar o relacionamento. Essas ações de marketing são importantíssimas para atrair clientes no mercado erótico, desmistificar o assunto e ajudar pessoas a construir uma relação mais saudável com sua sexualidade.
Parafraseando Simone de Beauvoir, a propósito de Sade, não devemos queimar materiais pornográficos. Antes de ameaçarem, eles expõem e registram tensões, ressignificações e fissuras das normatividades de gênero e de sexualidade. Em particular, são expressões e práticas que produzem efeitos sobre o campo em que essas marcas habitam, bem como sobre o universo político que tenta traduzir marcas em direitos.